21.11.07

Estrela do Mar

"Sentei-me nas rochas...Eu, o meu caderno, a areia, o mar, a falésia sobre mim e um vento de norte que me traz o cheiro a tudo o que eu não quero voltar a perder.Perdido no branco do papel, esqueci-me que o resto do mundo, além daquele que me tocava nos pés, também existia e fiquei sózinho, à deriva num imenso mar que, agora, é só meu e ninguém mais conhece ou consegue alcançar.As pegadas marcadas, por outros, na fina areia, são apenas marcas de um passado que não passa de uma vasta memória de um outro mundo que fica para lá deste azul.
Eu, a areia... e uma doce voz que me interrompe baixinho e pergunta:
- O que estás a escrever?
Olho em frente, olho à volta como se procurasse uma resposta ali na praia, fito com os olhos o infinito e encolho os ombros como se fosse a resposta mais completa que poderia dar e que falar, não é de todo o que me apetece mais no momento. Deixo caqir os olhos de novo para este pedaço de papel, despreocupado...
- Se calhar não sabes falar, ainda... mas sabes escrever porque tens uma caneta na mão! O que estás a escrever?
Volto a levantar lentamente os olhos, para me assegurar que desta vez fica bem claro que não vou dar resposta alguma que satisfaça aquela curiosidade infantil e muito menos interromper o “nada” que estou a fazer para lhe dar conversa e fazendo um...
- Devias escrever sobre o mar... está muito azul...
Na esperança de despachar a conversa que não posso adiar e de poder continuar sozinho, embrulhado nas minhas divagações, sem voltar a levantar os olhos, mostro-lhe o caderno em branco e a caneta ainda com tampa.
- Não é assim! – Sorriu e tirou-me o caderno da mão sem dar tempo para reagir, tirou a tampa à caneta com os pequenos dentes brancos e desenhou uma linha direita de uma lado ao outro da página. – Agora já podes escrever sobre o mar sem tirares os olhos do papel...
Esticou na pequena mão o caderno e devolveu-me a caneta com a tampa meia trincada, sorriu e avançou em direção ao mar, deu dois passos para trás, voltou-se para mim de novo e perguntou:
- Dás-me um folha?
Sem ter de reflectir muito arranquei uma página ao caderno e estiquei a mão com a folha presa entre dois dedos.
Ela sentou-se na areia, de pernas cruzadas, e começou a desenhar com o dedo... – Não é assim... – disse eu e sorri!
- Estou a desenhar-te, para poder escrever sobre ti quando não vieres à praia...
Fiquei a pensar no porquê daquelas respostas tão certeiras e sem sentido, numa pessoa tão pequena e juro que por momentos deixei de ouvir o mar, de sentir o cheiro trazido pelo vento norte... Quando levantei os olhos de novo, estava sozinho na praia...Eu, a areia que me tocava os pés, a falésia sobre mim e no caderno, na primeira página, apenas uma linhas direita de um lado ao outro, com uma pequena estrela no canto e por baixo, em letras trémulas e meio sumidas ... “assim podes escrever sobre mim também”.

Regresso




"Ainda não sei se voltei ou se alguma vez cheguei a partir.Quando nos prendemos a algo, que terá por certo um fim, quando o fim chega, há um espaço vazio, entre o estar, o ir e o ficar, uma espécie de sentimento, sem ser sentido conscientemente, entre a alegria, a confusão e a saudade...Trago na pele ainda aquele sol, o pó e o rio, trago na voz as canções e o grito alegre ao acordar, trago nos dedos o toque do verde das árvores, do castanho da terra e o vibrar das cordas de uma guitarra, trago comigo ainda um resto do cheiro daquele ar, tão singular e nos olhos, os teus, o sorriso, o brilho, o mimo...É dificil dizer quando tudo acaba... será no último adeus? Naquele em que já nada nos faz olhar para trás? Será a meio caminho, de regresso, onde deixamos de pensar no caminho percorrido para pensar no caminho ainda por percorrer, ou quando chegamos a casa e a saudade nos mata por dentro sem conseguirmos acordar e mantemos sempre a esperança de ser mais um sonho e que vamos acordar, daqui a pouco, interrompendo o sono com uma alegria imensa em direção ao pequeno almoço, cheio de gente, o cheiro do pão e da cevada servida bem quente em jarros de alumínio...
Será que acaba quando as lágrimas cessam e o sorriso brota por algo que veio ocupar este lugar vazio, quando as paredes vazias se fecham sobre nós e o mundo se encolhe e dobra à força deste sentimento...?
É certo que, eventualmente, tudo acaba... mas como, se nunca conseguimos definir o seu fim?
Cheguei a casa, senti-me perdido e deslocado... desconheço o meu mundo...Já não sei o meu lugar,quero voltar..."

9.11.07

Como fazer!!!




Ouvi e gostei...


"Talvez o Amor não faça o Mundo girar,

Mas faz com que a viagem

valha a pena."



"A palavra Amor não consegue exprimir aquilo que sinto por ti."